quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Caminhando


Num monte junto as poucas coisas que consegui. Guardo na alma a maioria dos instantes, na mente conservo as palavras e na pele levo os cheiros, essências de uma vida inteira. Nos olhos, carrego em cada lágrima as imagens deste instante, momento de vida, sopro do destino que me trouxe aqui.
Não levo mapa, não traço rotas, limito-me a seguir o caminho. Nas costas carrego o passado, pela frente estende-se o futuro, sou um caminhante, de passagem para outro lugar qualquer. Faço uma pausa entre vidas, percorro o curto caminho incerto entre elas, como um fio, que liga os novelos, destinos entrançados em muitas vidas, pedaços de todos e cada um de nós e de vós.
Preparo a alma, para atravessar o deserto, vazio de vida, cheio de eus, questões e dúvidas por explicar, instantes e momentos por saborear, dores e males por sentir. Preciso compreender a informação que recolhi, tratá-la e aprender com todos os erros cometidos, com todas as lições recebidas.
Deixo atrás as histórias, montes de palavras, sentidos atados em fios de seda, sensações, toques e emoções acordadas em mim, por todos, despertas em vós, pelas letras que calmamente teci. Não me despeço porque não parto, despeço-me apenas porque fico, fico, calado, em silêncio. Falo para mim, escrevo-me, desenho-me e esculpo-me, preenchendo o interior que se foi esvaziando a cada frase, a cada beijo, a cada carícia.
Restauro as cores que o tempo empalideceu, reparo os buracos da alma, saro as feridas abertas, lambendo-as. Deixo-me ficar, por uns tempos, em mim!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Amam-se


Amam-se as letras em singelas palavras, frases feita de sentidos por tocar, de gostos por revelar.
Amam-se as almas em laços ternos de suave cetim, profundo instante em que te amarras em mim.
Amam-se os corpos solvidos na paixão que o tempo não pode apagar, no abraço terno sem pensar.
Não há noite como a tua, não há dia em que não sejas única e exclusivamente minha. Não há música que não te toque, com os dedos que são meus. Danças, soltando o corpo, numa imagem que fixo na memória do tempo. Sigo-te na cadência de teus movimentos, acompanhando-te sem te tocar, meu corpo persegue o teu, sem se encostar.
Somos vida, luz, amor e cor, como raios de um único sol. Somos água quente e fria, que se tempera na fusão das paixões. Somos tudo, somos nada, mas ainda assim não podemos deixar de ser. És a boca com que falo, as letras com que escrevo, o passado que me segue e o futuro que me espera.
O nós espera pelo tu, pelo eu, para que juntos possamos completar o caminho para a próxima eternidade.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Oscilações

Oscilações da alma, a realidade prende o sonho com correntes pesadas. Teme perder o rumo, a cabeça, a racionalidade. Mas o desejo chama-nos de uma outra dimensão, dia após dia, Noite após Noite.

Cedemos, deixamo-nos levar. Não, não podemos, temos de racionalizar. Amo-te, minha luz de letras feita, mas não posso, não devo fazê-lo. E a realidade? Afinal és apenas um sonho de uma noite de verão. Não quero pensar-te, mas... preciso de ti!

Eu, aqui sentado neste cadeirão envelhecido pelo tempo, escuto as tuas ondulações, sinto os teus passos em frente, atrás. Acompanho-te nas hesitações, quando me amas, e quando decides que já não me queres.

Não flutuo, mantenho-me firme na convicção de seres para mim quem és! Sei perfeitamente o que é para mim, e o sentido que fazes na minha vida, na minha eternidade. Sei de onde vimos, tenho a certeza do caminho que temos a percorrer, mas não vou desviar-te da tua realidade, afinal ela é limitada à vida do teu corpo, e esse jamais será meu, mas... a tua alma pertence a minha e jamais irá a lado algum sem me levar com ela. Te espero, no silêncio da Noite, abrigado entre as estrelas de onde te observo embrenhada da tua pequena realidade.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Guarda-me


Fechas o corpo sobre ele próprio. Guarda-me no teu âmago, como o silêncio guarda os sons que mais gosta. Fechas-te na sombra do dia, para recordares a Noite. para lá da janela fechada a luz queima o olhar. Aqui, sentes-te abraçada por mim, e eu, sinto-me dentro de ti. São assim os nossos encontros, fugazes como o relâmpago, intensos, como a tempestade. Nada se escuta, apenas na mente ecoam as nossas conversas, falam as almas no som deste silêncio. E conta-me, e dize-me, e ama-me, aí mesmo, dentro de ti.

O teu grito silencioso chega-me no primeiro raio de luz da manhã. Escondido de sombra em sombra, salto de galáxia em galáxia, por entre dimensões até encontrar o teu corpo, despido que espera por mim nesse canto perdido . Chego, afago-te os cabelos de seda, toco-te a pele canela, perfume, essência de mim. Beijo-te os lábios carmim, e entro em ti, deixando o meu corpo ficar à tua porta, encostado ao teu, num abraço profundo.

Entre as brumas, dançam as almas, ao som deste tango intenso, sensual, falamos, sentimos-nos, beijamo-nos e deixamo-nos estar entre dois mundos diversos, aproveitando a pausa que o tempo tirou para mudar de segundo. Tudo parou menos nós, lá fora os nossos corpos congelaram o instante num abraço, aqui, no nosso mundo selando-no com um beijo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Tua alma gêmea


Olhas o céu, numa procura constante da tua alma gêmea. Pergunta-me, na brisa do vento "-Será você, Noite?". Olha cada estrela tentando ver teu brilho, no seu jeito de cintilar. Eu te abraço com longos braços de escuridão, salpico o teu céu de pequenos brilhos, letras perdidas no pano imenso desta Noite. Escuto as tuas dúvidas, percebo os teus anseios, descubro os teus segredos, menina, infinitamente doce.

Cresces comigo, lendo nos mistérios do firmamento, respostas que te levantam novas dúvidas, certezas que te fazem caminhar em direção ao meu peito. Amor é a palavra certa, a que devemos usar para entender aquilo que procuramos, aquilo que descobrimos no seio da noite escura. Amor, aquilo que te ofereço, em cada estrela que cai em direção ao teu peito.

Sabes, pequena estrela, há perguntas que não se respondem, pois ainda antes de as formulamos já sentimos a resposta, dentro de nós. Mas temos medo, medo de nos termos enganado e estarmos caminhando à deriva em torno do nada.

Então, menina mulher, já sabe a resposta, ou não?!

sábado, 15 de dezembro de 2007

Abre teus braços...

No silêncio da noite, abre teus braços para receber a minha alma. Teu corpo despido, coberto com esse véu translúcido que suaviza os contornos da tua pele, abre-se para mim, oferecendo-me o prazer, o calor, a alma, que brilha no teu centro de gravidade. Venho, com a sede nos lábios, beber da tua boca, o gosto suavemente quente da tua língua que se enrola na minha.

Nesta noite, o meu corpo cola-se no teu, sentindo-te o coração acelerar, olho-te profundamente nesse azul, vislumbro nele o mar imenso que retens no teu olhar. Ficamos ali, quietos, frente a frente, num instante, num momento, olhos nos olhos, corpo no corpo, alma na alma. Paramos com um simples toque a realidade que se separa, diverge desta dimensão, deixando-nos sós, no nosso próprio Universo.

Perdemos a noção do tempo, esquecemos o espaço à nossa volta, somos apenas uma corrente de energia que flui, entre corpos colados, abraçados, sentindo-se, transferindo, trocando emoções em olhares fixos.

Fechamos os olhos, e beijamos-nos, intensa e prolongadamente, até que o dia amanheça...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Um Instante no Tempo


A eternidade é um estado de alma, um instante no tempo em que o corpo se perde e apenas a alma sobra. Neste espaço infinito, viajo por todas as dimensões, o corpo feito de energia, luz pura, risca este túnel entre os tempos em direção a ti.

Te encontro, espalhada por vários corpos, em diversas épocas ao longo desta história imensa. Em cada uma delas, eu sou um personagem diverso, mas sempre próximo, por vezes muito próximo de ti.

Sabes, estou sempre aqui, no lugar onde vens a cada noite sonhar, neste mundo perdido que visitas ausente do teu corpo, onde a leveza é o teu próprio ser e a beleza a tua própria alma. Eu, sou apenas o espaço, a tranquilidade e a paz que encontras no centro de ti própria.

A Noite é o instante propício em que os silêncios abafam a realidade e o corpo permite ao espírito evadir-se-lhe, abandonando-o por algumas horas em troca do seu próprio descanso. O momento de magia inicia-se na penumbra do entardecer, quebrando-se apenas com a aurora, o amanhecer.

Somos o passado e o futuro do outro, não temos presente, mas sonhamo-lo a cada sono, há espera do amanhã que está por vir.

Um suspiro


Suave o toque das penas sobre o corpo despido. Dormente a alma embrulhada no tecido translúcido que te envolve. Silêncio prometido por entre este lago de águas tranqüilas onde teu corpo descansa. Repousas, assim adormecida, qual bela fantasia por mim criada, qual prazer escondido por entre mil páginas dum livro outrora escrito.

Brisa quente, que derramas por entre a folhagem da floresta. Odor premente que me empurra para junto do teu corpo, ardente, o fogo que emanas, queima a ponta de meus dedos ao te acariciar a pele. És vida, quarto crescente duma lua desenhada a carvão na tela branca da Noite, escura.

Música de embalar, perfume, bálsamo ou elixir, que me prolongas a vida e me acrescentas o prazer. Olhar para você é contemplar a luz a olho nú, sentir-te é tocar a eternidade, amar-te é preencher todos os vazios com um simples suspiro teu.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Caminho na Eternidade

Caminho, na eternidade dos tempos, numa estrada sem fim, procurando-te a cada curva do caminho, detrás de cada árvore, em cada flor, em cada pássaro. Há momentos em que as forças me falham, sucumbo ao esforço de séculos de caminhada, mas, sempre sopra uma brisa, que me dá novo fôlego, levanto-me e prossigo.

Hoje, enquanto caminhava, envolto na música que ecoava na minha mente, sob o Sol deste final de Primavera, senti um leve toque sobre o meu braço, que me fez acordar da realidade. Senti-me entrar num mundo novo, olhei, e vi-te, pousavas-me na mão, batias as asas para me acariciar a pele, e chamar-me a atenção.

Trouxe-te ao nível dos meus olhos e olhei para dentro dos teus... nesse instante, todo o mundo em nosso redôr se evaporou, deixando-nos a sós, o teu corpo, frágil, fez-se mulher, sobre os meus braços e como que saída de um conto de fadas, estavas ali, olhando para dentro de mim, e eu, te deixei entrar, abri a porta da minha alma, e tu deixaste-te ficar...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Mar

Caminho, sobre a areia molhada da praia, os pés moldam marcas que deixo para trás, as ondas refrescam o corpo e a brisa desta manhã acaricia-me a face. Caminho, para lugar nenhum, nesta extensão de terra imensa, paralela à imensidão do oceano extenso. O céu, coberto de nuvens que se entrelaçam rasgando-se aqui e ali para deixar passar os raio do Sol, trás-me à memória imagens do passado.
Caminho, sem destino marcado, o tempo avança a meu lado, companheiro inseparável desta viagem, deixar-me á pelo caminho, quando as minhas forças se esgotarem e as dele, eternas, o levarem para além do infinito.
Horizonte longincuo, limite do meu olhar, deixa-me adivinhar o que está para lá de ti, para não ter de caminhar, incessantemente, para nenhum lugar. Paro, deixo o corpo cair sobre as ondas do mar, deixo o oceano envolver-me, perder-me, no azul deste lugar, sentir a água cobrir o rosto molhado pela maresia, sentir um arrepio na espinha.
Fico aqui, olhando o fundo, sentindo a vida expirar, o corpo arder, no frio deste mar, deixo-me arrastar até ao leito, para sempre, vou voltar, ao meu lugar...

domingo, 9 de dezembro de 2007

Visito-te

Visito-te, em mais uma noite, procuro por entre as estrelas o caminho que me conduz a ti. Encontro-te, na beira de um lago de águas tranqüilas, olhas o céu, a Lua espreita o teu corpo desnudo por entre o rasto das nuvens, e eu escondo-me por entre as árvores. Fico ali, descobrindo as diversas tonalidades da tua pele, este é mais um quadro que quero guardar de ti, mais uma tela que penduro nas paredes da minha alma. A natureza invade a atmosfera com sons e perfumes, a esta distância, pareces uma Deusa que veio adormecer nas margens, deliciando-se com a frescura da brisa da noite. Espero que adormeças, e quando os teus olhos se fecham, vôo suavemente sobre a superfície das águas. Paro mesmo a teu lado, as minhas mãos, percorrem, sem te tocar, o teu corpo, inalo o perfume da tua pele, e a minha respiração cobre-te. Deixo-me estar, junto do teu corpo, tentando adivinhar para onde foi a tua alma, a noite percorre o seu caminho e a Lua acaba adormecendo no horizonte. A nascente, a madrugada anuncia o rasgar do dia, o meu tempo está a esgotar-se, quero ficar, mais um instante, quero sentir-te perto de mim, por mais um momento, mas a luz vai deixar-me sem asas, converter-me num ser comum, tenho de voltar, ou perder-me-ei para sempre. Na suavidade do que resta desta noite, deixo-te um beijo, despeço-me de ti, regresso a mim...

sábado, 8 de dezembro de 2007

Espectador


Suspendes o corpo, num fio de seda que atei às estrelas, nesta noite que nos abraça. Abres mão da alma, como último recurso para a libertação. Vejo-te voar, qual pomba branca sobre o fundo negro das tempestades, és pureza, uma divindade que carrega nas asas a salvação do amor eterno, afastando-o das tormentas do cotidiano.
Eu, sou mero espectador, sentado na poltrona da platéia, assisto ao melodrama do dia-a-dia, que se desenrola com fim anunciado para um instante qualquer. Os personagens debatem-se com as amarguras, agruras dos dias que se sucedem em fios de navalhas que cortam a direito os corpos que não possuem. A felicidade é uma luz, que se acende em breves instantes entre cenas e tu, esvoaças acima do palco, imaculada na brancura de tuas penas, leve como a brisa do vento norte.
Batem-se as mãos em palmas anunciadas no desenrolar do contexto desta peça de vida, pedaço de nós que desfilou ante olhares atônitos, umidos, lacrimejados, que se abraçaram a sorrisos instantâneos que consumimos como o fogo consome o papel, onde escrevemos o guião. E tu, agora bailarina, despida, pairas sobre a última cena, pendurada, sobre a corda que te salva a vida, mas te amarra a alma.
O espetáculo termina, e eu, adormeço o corpo na cadeira da vida.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Menina


Sinto ainda, o calor dos teus dedos que desenham os meus, sinto ainda o perfume da tua pele que penetra na minha, sinto ainda o brilho do teu olhar, escondido, que me entra pela alma, sinto ainda o gosto da tua boca, no beijo trocado, por entre lábios.
Escuto, a tranqüilidade da tua voz, plácida ternura do teu jeito, mulher, menina, sorriso aberto que os lábios escondem. Olho-te, na distância deste instante em que o teu corpo foi o meu, entendo, no momento, tudo aquilo que se fez de palavras escritas e hoje se faz de palavras sentidas. Menina, mulher, sinto ainda a textura dos teus cabelos roçar-me o rosto, o calor dos teus braços dançando sobre o meu dorso, a chama que arde, quando o teu corpo toca no meu.
E tu, adormecida, recebes-me, de braços abertos, com a inocência da infância, com a certeza da adolescência, com a segurança da maturidade, tranqüila. Embalada num sono suave, no mar das minhas mãos deixas o teu corpo, para te abraçar, deixas que a minha pele seja maresia, para te molhar, deixas que a minha boca seja fonte, para te dar de beber.
Neste sonho da realidade, dormes, sentindo-me, como este nevoeiro que me abraça o corpo, que abraça o teu, sempre.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

No teu silêncio

És tu, que no teu silêncio me escutas, que na tua distância me sentes, que na tua solidão me esperas. Sou eu, aquele que voa pelos céus ao teu encontro, que a cada Noite te abraça no vazio da tua alma, que a cada dia dorme em ti.

Teu corpo abandona-se às agruras da vida, tua alma mata a sede do prazer que te negam nas palavras deste suco, deste néctar que te ofereço. Juntos, somos uma noite qualquer, onde as estrelas se fundem com o brilho dos olhares que nelas se fixam estarrecidamente, perdidos, na esperança de se encontrar.

Provo-te a pele despida, sabor salgado de ti, gosto distante que me adocica os lábios e me deixa a boca sedente do teu ser. Devoro cada sulco, cada curva que desfaço, cada reta percorrida em nós, como se fosses a última corrida dum velho carro. Toco-te, na ponta dos meus dedos, como se fosses cordas duma viola inventada, pedaço de música encantada que me embala para adormecer.

Tudo isto, num segundo, um momento de imaginação, em que os dedos escrevem sozinhos e as mãos, geladas, se deixam conduzir para te tocar.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Brisa


Inundas a Noite com os contornos suaves da tua pele. Perfumas o ar da fragrância suave do teu corpo, que me entregas, no crepúsculo deste lugar, que é nosso. Em minhas mãos derramo os fluidos que entrego sobre ti, numa carícia prolongada, tranquila. Sobre a cama, estendes-te qual planura sem fim, que percorro com os dedos úmidos, em movimentos ritmados, cavalo adestrado caminhando a passo lento sobre terra virgem. Sinto cada sulco do terreno, cada protuberância desta escultura corporal que amasso ternamente, escultor que recorda a obra feita em desenhos sobre o ar fresco da manhã. Sobre o ambiente carregado de essências, murmuro palavras antigas, memórias esquecidas dum tempo em que a magia era música constante entre nós. Num tempo em que os corpos se alimentavam da carne fresca que possuíamos, possuindo-se até à exaustão. Hoje, venho aqui, ao passar constante de cada Noite, deitar-me sobre o teu corpo desnudo, acariciando-o, numa massagem revigorante que te desprende a alma e te entrega asas para voares. Vivo das lembranças, dos sentimentos, das saudades da tua pele sobre a minha, do teu perfume sobre o meu. Hoje, sou apenas uma brisa, que sentes na Noite escura, afagar-te o corpo nu, que te recorda o passado e te dá esperança no futuro. Hoje, como sempre desde que parti, venho visitar-te, a cada Noite, para matar saudades.

Encontrar você!

Na penumbra do quarto sinto-te o corpo fremente, a alma ilumina-se, salta-te do peito em raios de luz. Ilumina-se a escuridão e nascem as sombras, vês-me sem me tocares, sentes-me, presença constante, caminhando a teu lado ao longo dos dias, amando-te pelas noites fora.
Meu corpo invisível é trespassado pelo brilho do teu ser, reconheces-me apenas pela sombra que projeto sobre tua pele despida.
Sentes o calor dos meus lábios cruzando os teus, e a intensidade do mar dos meus olhos quando vem molhar as areias das tuas praias. De minhas mãos recolhes o tato com que te acaricias, sentindo-te minha a cada toque.
No âmago de ti recebes meu corpo inventado, abraçando-o, deixando-o completamente entregue em teu corpo úmido de prazer.

Sinto no ar o perfume da tua pele, como se tivesses vindo até mim, como se estivesses aqui, minhas mãos deslizam no ar, contornando teu corpo acabado de criar. Pura magia, aquela que te faz viajar, até mim. Sonho, utopia, ou simplesmente vontade de te encontrar.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Suavidade do teu corpo

A suavidade da margem do teu corpo, adormece-me nas praia da tua pele. O vidro que nos separa, condensa em si toda a humidade que se desprende de ti, pareces um sonho para lá da realidade fria daquele cristal. A silhueta desnuda, reflete para lá do corpo a alma intensa que reside em ti. Os contornos suavizados pela água que se desprende em pequenas gotícolas, que resvalam ao sabor da gravidade, tornam-te uma simples miragem.

Os aromas que emulsionam a água que cai em cascata do chuveiro preso na parede, espalham no ar o perfume que sinto sobresair da tua pele quando me abraças. Do cabelo escorrido, enrolam-se cordas de água doce, que se precipitam até ao lago que se estende a teus pés, percorrendo-te todas as curvas, inundando-te cada recanto íntimo, para terminar, levando com ele, pedaços de ti.

Fico aqui, do outro lado desta barreira cristalina que nos separa, como se estivesse numa galeria, contemplando uma obra de arte. Espectador atento da tua sensualidade, vigilante dedicado de tua essência, anjo, guarda, de tua alma.

domingo, 25 de novembro de 2007

Simetrias

É entre os reflexos do tempo que se encontram os mais sagrados segredos da eternidade. Entre a imagem real daquilo que somos e a imagem reflectida daquilo que fomos. O teu corpo, é igual simetria de sabedorias, sensibilidades e paixões. De um lado a realidade que enfrenta a agrura dos dias, ao outro lado, a sensibilidade que eleva os sonhos na noite que te adormece.

E o tempo, que a duas velocidades cresce contigo, levando a menina a fazer-se mulher, levando a mulher a tornar-se deusa. Eu, sou apenas as letras que ordenas em poemas perdidos sobre páginas de livros que se empilham na sombra das pedras que caminhamos todos os dias. Sou o murmúrio que escutas na brisa do vento que passa por ti, que te envolve, e te abraça como aquele apertado abraço que te deixei na partida.

E voas, igualmente simétrica nas asas, a que te conduz pela vida, a que te leva pelos sonhos, esperando que um dia ambas sejam apenas um par, e juntos possamos voar.

Quebrar a Solidão



Escrevo-te, para quebrar a solidão dos meus dias, acompanhar-te na solidão das tuas noites, por entre todo o silêncio a que te votas, abraçado nesse mar de estrelas que te entra pela janela. Escrevo-te na busca da perfeição, na onda distante que a alma agita, como um poeta que não rima. Escrevo-te porque quero ser a chama da tua fogueira, porque quero ser a luz tremula que te ilumina a alma, a companhia que na distância te acalma.

Descubro-te, simplesmente pelo instinto, pelo sabor que provo no vento, gosto teu que me toca, instante aberto em que me entregas a verdadeira essência de ti.

Desenho-te sabendo-te de cor, como se tivesses sido minha alguma vez, como se apenas te tivesse tocado, abraçado, beijado. Invento-te, na luz do dia, para que sejas real nos sonhos da

Noite, e, escrevo-te, mesmo sabendo que não me lês, mesmo sabendo que já não me sentes, ainda assim te escrevo, com todas as metáforas que conheço, torneando cada palavra, embutindo nela o sentir que reluz como madrepérola.


E tu, aí sentada, olhando a janela e vendo passar lá fora o mundo, perguntas-te, sou eu? E eu respondo-te, sim és tu, tu mesma, que agora descobriste nas minhas palavras os teus sentimentos, nas minhas metáforas a realidade que vivias procurando. Utopia dirás, mas o que não é utópico? Até a própria realidade o será se deixarmos de acreditar nela.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Um sonho

A cada Noite, venho visitar-te na tua solidão, alimentar-te a saudade que sentes já sem saber. Agora os teus olhos vêem-me, o teu corpo sempre me sentiu, mas era uma presença imaginada, hoje sou uma imagem nítida na memória do teu futuro.

A tua pele recebe-me como a brisa do vento, que te abraça o corpo desnudo. Teus olhos cor do mar, vêm-me chegar montando Pégaso. Tuas mãos, desenham sobre a folha branca de papel, fazendo-me real, dando-me forma. Num instante, salto do papel, ganhando vida, apeando-me da montada, pegando tua mão para beijar.

Ofereces-me teu corpo para abraçar, queres sentir os meus contornos e tocar a minha pele morena. Absorvo cada sabor teu, inálo cada perfume como elixir, que me dá vida, que me mata a sede desta ausência prolongada.

Estes breves instantes, entre um dia e outro dia, fazem da Noite um momento de partilha, tornam-na mágica e levam-nos ao lugar dos sonhos, onde se realizam as metáforas, onde nos encontramos a cada Noite. Depois, deixo-te de novo, com a aurora, mergulhada na tua solidão, nos sonhos que desenhas para ti, e despertas, abrindo os olhos, e lembrando-te logo alí, que sonhaste comigo.

Tempo


Escorre pelas mãos o tempo, como areia que se dissolve na água do mar. Passa por mim a vida, correndo como rio até ao oceano. Fico sentado, neste recanto de estrada, margem entre ficção e realidade, instante parado, pedaço de tempo que perco. Não sei onde estou, sequer se estou em algum lugar. Não sei como vim, de onde parti para aqui chegar.

Teu, bálsamo que suavizas minha dor, momento de prazer que me acolhe no meio da Noite. Só em ti encontro a alma, só em ti encontro a casa, o leito perdido onde me recebes de corpo aberto.

Tu, tão somente tu, que no vazio me descobre, que na imensidão da praia me distingues entre grãos de areia, tu, apenas tu.

Silêncio, cala-se a vida, sossegam os murmúrios e a ausência torna-se presente, neste lugar vazio onde me deixo ficar. Chegas, nas ondas do mar, perdida na brisa do vento, ou no raio que rasga o céu escuro da tempestade. Teu corpo molhado, é areal onde me deito, abraço, apertado que me conforta, colo que me aconchega. Eu, teu porto de abrigo, onde aportas teu corpo, onde matas a sede da saudade e renovas a alma, no sopro suave dos meus lábios.

Letras


Nas letras do teu poema, encontro-te, contemplando a noite, a alma enlaça-se nas rimas, e a voz que não escuto, declama os versos, como se os escrevesses nesse instante, para mim. No teu poema, a luz nasce, entre cada estrofe, no ritmo do palpitar do meu coração que bate no teu peito.

O teu corpo, despido, espera pela brisa do meu vento, que o afaga, como se meus dedos se fizessem de nada e viessem acariciar-te a tua pele canela, descobrindo cada recanto teu, como se já te houvesse tocado um dia, te tivesse possuído, fosses minha naquele momento em que consigo rasgar a barreira entre as dimensões para estender o meu braço, abraçar-te.

A música embala o teu olhar, uma lágrima de saudade desprende-se, formando um rio que corre, face abaixo, percorrendo-te, deixando por todo o corpo as letras que me escreves, fazendo da tua pele, papel onde marcas a tinta os sentidos que me ofereces.

Neste instante, abro as nuvens, e deixo escapar do meu peito um brilho, que atinge o teu olhar, repousa no teu peito, levando com ele a minha pele, o corpo que te aquece a alma, te cobre, te descobre e te ama até nascer uma nova madrugada.

domingo, 18 de novembro de 2007

Dançando


Pauso o olhar, nas tranças do tempo, deixo-me ficar, sentado sobre ele, vendo a vida passar, o teu corpo mudar, ao ritmo do meu pensamento. Deixo-me estar, parado entre os segundos, vislumbrando na penumbra o teu corpo desnudo, dançar em minha frente. Hoje estou vazio, não sei se gastei todas as palavras de uma só vez, ou, se, simplesmente, deixaste de as soprar no vento. As mãos geladas não escrevem e o olhos ficam parados para lá do infinito, sem se aperceberem do que ocorre em seu redor. Tu, vestida de nada, segues aí, agitando o corpo ao ritmo dum relógio qualquer. As forças esvaem-se e o corpo entra numa letargia oca. Não se escuta nada, nem a música que outrora enchia a casa de ruidos. Apenas os corpos permanecem sem saber muito bem porque ficaram aqui quando as almas foram para outra dimensão. Sinto apenas a brisa que provoca o teu corpo de bailarina, vestido da seda da tua pele, que se contorce nesse palco vazio que é a vida. Os meus olhos, vidrados no horizonte que se apresenta como limite infinito deste mundo onde o ar é a única coisa que subsiste, apenas vêem para lá do escuro, um ponto azul claro, na extensa Noite em que se transforma esta dança sem música a que te entregas em cada dia da tua vida.

sábado, 17 de novembro de 2007

...Sozinho aqui!


Despertas da escuridão, envolta no perfume das flores que te cobrem o corpo. Desabrochas para a vida, depois da tempestade duma noite de pesadelos. Faz-se dia, antes mesmo que a a escuridão desapareça, porque o sonho afastou os temores, os medos. Dissipam-se as nuvens e o brilho da Lua ilumina o teu olhar. Teu corpo feito de prata reflecte os desejos que a alma anuncia escondida em teu peito.

Sou estrela que te visita, abraço terno que te acolhe no frio e na distância que te separa de mim. Sonho, de uma noite quente de Verão, ou, coberta que te afaga a pele num dia frio de Inverno. Sou letras, imaginação com que preenches o teu sono. Sou quase tudo, e praticamente nada. Acordas, no meio desta Noite, arrepiada pelo ar fresco da madrugada, ou por pressentires a minha partida antecipada.

O vento do norte vem-me buscar, e os raios do Sol adormecem o meu olhar, já não brilho no teu céu, já não te abraço porque a realidade te colheu, deixando-me ficar sozinho, aqui!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sono cheio de sonhos


Noite, que me abraças, que me embalas, num sono cheio de sonhos. Que me levas para além do infinito, num só sopro de fantasia. Deixa-me dormir, esta noite, em teus braços, envolto pelo cetim escuro da tua côr. Quero descansar tranquilo, sem nada em que pensar, ficar quieto, perdido sem me encontrar.
Noite, deixa-me ficar, no silêncio do teu olhar, inerte e plácido, como a luz das tuas estrelas, que a imensidão não consegue devorar. Quero desfalecer, perder o ritmo ofegante da vida, expirar o último fôlego, e voar. Perder-me dos sentidos, afogar os sentimentos, e ser simplesmente energia que flutua em direção aos astros.
Noite, fica, aqui comigo, nem que seja apenas e só, esta noite!

Gotas de Cristal


Gotas de cristal, lágrimas perdidas na noite. Pétalas despidas duma flôr qualquer. Sentidos esvaídos, exprimidos, contidos apenas na essência de um instante feito de água, com gosto salgado.

Hoje, quero evaporar-me contigo, mudar de forma, esquecer-me de toda e qualquer norma, ser apenas ar, volátil, vazio, e nada mais. Quero subir, unir-me às nuvens que cobrem as tuas estrelas, tornar-me tormenta, condensar-me de novo. Purificado, quero cair, em direção à terra, para novamente me perder, sobre um telhado, uma flôr, ou simplesmente, uma estrada, um caminho que me leva de volta a lugar nenhum.

De regresso, ao mar revolto, através da doçura dum ribeiro qualquer, volto a salgar-me como as lágrimas que te escorrem pela face, nesta noite escura em que a minha alma não iluminou o teu caminhar.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Fantasia


Do início dos tempos, transporto o mito, a fábula, a história, como livro esquecido nas prateleiras da memória. Venho, pelo longo caminho, andando, deixando em cada árvore, em cada arbusto, pedaços da vida, retalhos das memórias, histórias, ou simples contos. Atravesso os séculos, com passos lentos, distribuindo fórmulas e unguentos. Entrego, em cada livro um destino, em cada prece um lamento.
Cruzo-me, com tantos trilhos e tantas vidas, encontro, companheiros de viagem, que carregam com eles a própria história dos homens, escuto-os, aprendo. Não viajo sozinho, acompanha-me a sombra que a luz projeta atrás de mim. Componho com as palavras que invento, as histórias que ensino, pedaços de outras vidas, entregues em fascículos.
Mito, invenção, pura ficção, ou quiça um sonho? será alucinação? ou mera confusão? Estas são as pegadas deixadas no imenso caminho que percorro. Marcas de outros tempos, contos de outras eras, vidas, já vividas, acumuladas no livro da alma, capítulos escritos, transcritos e lidos. Poções, ou sonhos, magia ou realidade, que insisto em fazer verdade.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Contornos

Sensualidade, desejo e prazer, formas que extraio do toque, do teu ser. Vontade, sentido e loucura, tudo aquilo que bebo de tua alma pura. Contorno-te, com meus dedos, como se fossem lápis, sobre a cama, feita de tela de algodão. A tua pele faísca a cada toque, pulsando em arrepios de prazer. Minha boca, saboreia cada milímetro de corpo que se estende qual planice à minha frente. Meu olhos são faróis, que na Noite escura iluminam o caminho a seguir. Minha língua desenha o teu pescoço, num traço de perfume e essências que se desprendem de ti. Meus lábios fecham-se ao abraçar os teus mamilos eretos que estremecem de prazer e meus dedos, adentram-se agora entre tuas penas, procurando o aconchego úmido de teu corpo, quente. Os corpos enleados, são um só novelo, da mais pura lã, na virgindade deste momento que se transforma num instante de prazer. As vozes soltam-se, dão lugar a gemidos, os corpos desatam-se em contusões, espasmos de luxúria. O meu corpo invade o teu, numa pacífica sensação de bem estar, abraças-me, e sinto-me deslizar por dentro de ti, quero tocar-te a alma com os dedos de minha alma, quero impregnar-me do teu perfume, invadir-me da tua pele. Os teus cabelos pendem sobre mim, longos, soltando fragrâncias, acariciando-me o corpo, escondendo-te a face de menina mulher que só eu conheço. O relâmpago corta a noite no instante e que juntos tocamos o Olimpo, os corpos cansados desferem o ultimo derrote e abandonam-se à delícia deste êxtase, deixando-se simplesmente ficar, envoltos um no outro.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Esperar

Tento adivinhar por entre as pedras o caminho, tento contornar as dificuldades que o destino me coloca, por forma a não esbarrar, não magoar. Evito, as pontas afiadas das rochas, evito perder-me na caminhada. Por entre a bruma, descubro-me, vejo a imagem refletida nas superfícies brilhantes, imagino o que está para lá da esquina, tentando predizer o que está por vir. Debruço-me sobre os livros, sobre as formulas, calculos e profecias, tentando entender o rasto que fica quando passo, a cada passo. Caminho, pesadamente, sobre cada trecho, sentindo o corpo cansado, a alma carrega-me. Procuro no escuro, a luz de um dia qualquer, procuro na noite, a Lua que teima em adormecer. Longo é cada segundo que arrasta o tempo atrás de mim, como uma corrente que me prende, sangrando-me o corpo, dilacerando-me o espírito como um cilício. Entrego a esperança carregada entre mão, ao divíno, deixando o futuro chegar sozinho, deixando a alma esperar, na beira do caminho, que a venham buscar.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Namaste

Nama = Reverência
AS = eu

Te = você
"O Divino em mim reverência o Divino em você"

Trazemos as palmas das mãos juntas em frente ao peito para cultivar o Amor Divino, em seguida abaixamos a cabeça e fechamos os olhos, ajudando a mente a se entregar ao coração.

Entre o professor e o aluno NAMASTE permite os dois se conectarem energeticamente, sem tempo livres dos limites do ego. Se for com sinceridade no coração e com a mente entregue e aberta uma profunda união de Espirito pode nascer e a verdade fluir.

A verdade é que todos nós somos um quando vivemos realmente no coração.

"DEDICO ESTE TRABALHO A TODOS OS MESTRES, DE TODOS OS TEMPOS, POR SEUS ENSINAMENTOS QUE ME INSPIRAM A TRAVES DOS TEMPOS"

"Hari Om Shri Gurubhyo Namara"

Voei

Quando a noite chega, adormecendo o dia em seus braços longos, abandono o meu corpo, sobre a cama, e a minha alma ganha balanço e voa para lá das estrelas. Sigo o rasto que deixaste para mim, por entre sois e planetas, navego, sentindo o perfume da tua pele que nunca toquei. Corto o vazio, atravesso galáxias sentindo o chamamento da tua alma, a vibração do teu corpo.
Este fio de seda, que nos liga desde o início dos tempos, resiste, tensiona-se, mas nunca se quebra, por isso escuto a tua voz, sem mesmo nunca me teres falado, acaricio o teu corpo sem nunca o ter sentido em minhas mãos, olho dentro dos teus olhos, sem nunca os ter visto. Esta noite universal, companheira de caminho, musa de tantos sonhos inventados na ponta dos dedos, acompanha-me com a sua escuridão, deixando que apenas as estrelas marquem o caminho para te encontrar.
Já o sol começa a rasgar o horizonte, quanto encontro o teu corpo desnudo, junto à margem do lago. Olhas as estrelas e pronuncias o meu nome, num chamamento, vês-me chegar, como nunca me havias visto antes. Venho sentar-me a teu lado, afagar-te o cabelo, sentir as curvas da tua pele macia e esperar pelo momento em que os teu lábios irão tocar os meus e fazer com que o dia nasça, de novo.
Digo-te, "-Estou aqui, meu amor! Sempre estive, mesmo quando não conseguias ver-me.", abraças-me e sinto a tua alma acolher-me, como se fizesse há muito parte dela. E fez-se dia...

Madrugada


Era já madrugada, o meu corpo dormia sobre a cama, a minha alma esperava-te sobre o umbral do tempo, a brisa do vento da tarde alertara-me para a tua chegada, pois com ela transportava o perfume da tua essência. Ali sentado, peguei no carvão, e sobre a tela, imaculada, deixei que as minhas mãos criassem. Chegaste, sobre a forma dum desenho, brotaste de dentro de mim, como uma criação, e, ali estavas, olhando-me.
O teu corpo sensual, soltou-se da tela onde nascera e fez-se mulher, o teu olhar, que fixava o meu, invadiu-me, senti o inconfundível perfume da tua pele, os teus cabelos roçaram suavemente a minha face e finalmente, ancoraste em mim. Os meus dedos, sedentos de ti, percorreram cada curva desenhada, cada detalhe, a minha boca, devorou-te, tentando absorver cada pedaço de ti.
Os corpos, fundiram-se, numa poção mágica, no silêncio desta noite, madrugada, quase amanhecida. A minha boca encontra a tua, quando a Lua, deixa espaço ao Sol, e o dia vem rompendo o horizonte, num tom rosado suave. As estrelas, insistem em não se apagar, aguardam, querem sentir a tranquilidade deste reencontro. Hoje, acordaste na minha tela, e eu de olhos fechados, fiz-te mulher.

domingo, 11 de novembro de 2007

Sonho Proibido


Entrego o espírito ao vento forte que sopra lá fora, dispo o corpo e deixo a alma voar, mesmo sem asas. A música adormece o que resta de mim, e as palavras soltam-se na ponta dos dedos. Deixo-me navegar por sonhos proibidos, espaços reservados que guardo na minha própria caixa de Pandora.
Desenho com as letras cada pedaço deste lugar onde repousam as magias, onde dormem os duendes e as fadas se refugiam quando esgotam os seus feitiços. Pinto com as cores da aurora os pedaços deste céu que me envolve. Liberto as letras em cascatas que se esbatem contra a superfície tranquila deste mar que morre placidamente na areia da praia.
Deixo à solta os sentidos, para que toquem os corpos dos que aqui vêm visitar-me, despertando-lhes as almas para a dimensão deste lugar. Aqui, onde o Sol nasce juntamente com a Lua e o dia coexiste com a noite. Nesta ambiguidade prazeirosa, os textos ganham forma de gaivotas que rasgam o azul, com laivos brancos.
Por aqui me perco, e me deixo ficar sempre que a vida lá fora me comprime, me empurra e me angustia. Este é o lugar secreto, onde me encontras sempre que não sabes de mim. Aqui vive a alma que não vês mas sentes, aqui, neste sonho proibido.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Sinto - te


Sinto-te, em cada palavra descrita, em cada letra escolhida. Sinto-te, em cada inspiração tua, em cada instante meu. O teu corpo, que descubro, com a ponta dos dedos que te escrevem, descrevem cada milimetro da tua pele. Sinto-te o perfume que se mescla com o incenso que queima o ar salpicando a noite de aromas.
Espera-me, sobre essa cama vazia, onde todas as noites adormeces em sonhos, embalados pela brisa. Chego de mansinho, afagando-te os pés, a minha respiração percorre suavemenste as tuas pernas, sentindo-te sem te tocar, a pele macia. As minhas mãos, tocam o teu ventre como se de plumas se tratassem, sinto-te, o corpo arrepiar-se, descobriste-me, envolto no vento cálido desta noite, encontraste-me no abraço apertado que nos demos.
Os meus lábios, procuraram encontrar os teus na plena escuridão, sabendo com certeza que iriam encontrá-los, no instante em que ambos nos beijamos, com a intensidade que apenas a saudade de muitas vidas deixou em nós. Senti-te, quando os nossos olhares se cruzaram, enquanto as nossas bocas se devoraram, num momento mágico.
Quando fizeste o dia nascer, o Sol foi encontrar-nos onde a Lua nos adormeceu, dois corpos colados, duas almas abraçadas, sobre os lençois do amanhecer...

domingo, 4 de novembro de 2007

Espaço de solidão


Sento-me, na beira deste limite de Terra, quero partilhar com todos a minha solidão, a minha vontade de ficar só. No limiar do momento, deixo atrás tudo o que ganhei, olho o infinito sem ver o que vem, vivo apenas o prazer deste momento em que me deixo envolver pelo silêncio.
Absorvo todos os sons que o horizonte me trás, sinto, o toque da água fria deste mar que me afaga os pés, deixo que o espaço me devore na solidão deste instante, em que o dia adormece nos braços da minha noite.
Deixo que os pensamentos resvalem para este oceano que à minha frente se agita, afogando-se no sal desta água pura. Espero, libertar-me aqui, na beira deste abismo, deste corpo velho e usado, e ganhar asas para voar de novo, numa liberdade há muito conquistada.
Aqui sentado, espero que a noite me abraçe num prolongado momento de solidão.

sábado, 3 de novembro de 2007

Sente-me



Sente-me, mesmo aqui, na eterna distância que nos separa, o calor imenso do teu corpo. Olho-te, na sensualidade do teu quarto, enquanto a roupa se desprende de ti, e me mostras a nudez da tua alma, embrulhada nesse corpo fremente. A pele arrepia-se ao sentires-me tocá-la, como um sopro, teus olhos encerram-se num desejo que os revira nas órbitas, teu ventre retrai-se como que contendo um espasmo de prazer. Sentes-me, percorrer-te por completo, as mãos, os lábios o corpo, tua alma incandescente, refrigera-se ao fundir-se com a minha.

Teus dedos, seguem minhas mãos nesta viagem aos teus sentidos, o corpo agradece e a alma mata a sede que a saudade reclama. Sinto o perfume do teu cabelo longo, o sabor da canela em tua pele, o calor que de ti emana. De olhos cerrados, faço-me presença em ti, transporto o corpo para alimentar o teu, levo a alma para abraçar a tua, nesta viagem transcendental ao nosso Universo.

Os corpos exaustos pelo prazer que se ofereceram repousam juntos no limiar das dimensões, espaço e tempo que nos separam, mantendo as mãos enlaçadas, conexão inviolada através dos séculos. As almas, feitas de uma só pela fusão, permanecerão ligadas através dos céus, atravessando o portal da eternidade.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Atrás do Tempo


...deixo-me ficar, na sombra do passado, escondido da turbulência do presente, evitando as vagas do futuro. Deixo que o tempo me passe, me ultrapasse, fico quieto, estático. Com este tempo que passa, observo as imagens de vidas que arrasta detrás de si, um filme desfocado pela sua própria velocidade, fotogramas de instantes em que o próprio tempo se suspendeu, uma pausa na agitação da corrida.Deixo-me ficar, aqui onde o Sol já iluminou o dia, e a Noite é exclusivamente o remanescer do que ficou de mais um dia. Sento-me, como se conduzisse um carro, com a singular diferença de que não me movo, apenas o que está à minha volta se atarefa em passar. Esta viagem, atrás do tempo, oferece-me a possíbilidade de rever os momentos, de perceber os tormentos, de sentir de novo, duma forma inversa o que é ir da dor à alegria, da ausência à presença, do vazio ao cheio.Espero, neste regresso à origem, nesta viagem sem movimentos, voltar a ti, no lugar onde nos deixamos, ouvir-te de novo, e sentir que no teu olhar a esperança de outros tempos, é muito superior á derrota do presente. Espero, poder demonstrar-te que não é baixando os braços no presente, que alcançarás no futuro tudo aquilo que já tiveste no passado.Volto, de regresso atrás, ao lugar onde as nossas mãos se separaram pela última vez, para voltar a tocar-se no próximo futuro...

No Silêncio desta noite


No silêncio desta noite, fico a escutar a minha própria alma. A Lua, preenche o céu imenso, apagando o brilho da tua estrela. Sento-me no topo da colina, em meu redor as luzes das cidades vizinhas prolongam o firmamento, pontilhando a Terra escura, esbatendo a linha do horizonte. Hoje, não se escuta nada, apenas o som do coração que bate, a um ritmo quase parado.Sei que estiveste aqui, vi-te por entre as sombras das árvores adormecidas, deixaste-te ficar, vieste apenas olhar-me, descubrir nas palavras escritas o fôlego que por vezes te falta. Senti a tua alma palpitar na escuridão, comprimindo-se para não quebrar o silêncio, de palavras que não escreveste, de frases que nunca pronúnciaste.Com as mãos cravadas sobre a terra, deixei que os dedos se afundassem no solo fresco, deixei que criassem raizes e ali ficassem presos para que não deambulassem sobre as teclas, feitas de letras que sempre te escrevo. Mas, a minha alma, soltou-se e com ela libertaram-se as palavras, frases completas, que no silêncio desta noite, agruparam as estrelas em novas constelações e desenham sobre o céu escuro, as palavras que não ouso dizer-te ao ouvido, simplesmente porque, estiveste aqui, e não me deixaste ver-te.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

RENASCER


Adormeço sobre as sombras da noite. O meu corpo dissolve-se no silêncio, enquanto o espírito se evapora com a alma. No teu âmago, renasço a cada alvorada, como um homem novo, vazio.
Acordo num mundo novo, onde a noite é companheira dos sonhos, onde o amanhecer não doi, apenas tráz luz às sombras, e nos desperta com o chilrear dos pássaros.
O despojos, deixados atrás, são arrastados como cinzas, pelo vento norte, espalhando-se por toda a envolvente. A chuva que caiu, lavou o chão despido, levando para longe as recordações, ficando apenas a memória de um tempo que se esgotou.
A nova criação, abre os olhos para a luz da madrugada que ganha terreno à escuridão da noite, inspira profundamente, e faz-se à vida.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sobre a Meditação


Todos nós conhecemos o mundo exterior de sensações e ações mas, do nosso mundo interior de pensamentos e sentimentos nós conhecemos muito pouco. O objetivo inicial da meditação é tornar-se consciente e familiarizar-se com a vida interior. O objetivo final é alcançar a fonte de vida e consciência. Incidentemente, a prática da meditação afeta profundamente nosso caráter. Nós somos escravos do que não conhecemos. Daquilo que conhecemos, somos mestres. Qualquer que seja o vício ou a fraqueza, se os descobrimos dentro de nós e entendemos as suas causas e como funcionam, nos tornamos capazes de superá-los por conhecê-los bem. O inconsciente se dissolve quando trazido à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia: a mente se sente adequada e se torna quieta, silenciosa. Para que serve uma mente quieta? Quando a mente está quieta nós podemos nos perceber como puros observadores. Nós nos afastamos da experiência e do experimentador e nos mantemos a parte, no estado de pura consciência, a qual está entre e além dos dois. A personalidade, baseada na identificação com o ego e em imaginar que somos alguma coisa: "Eu sou isto, eu sou aquilo", continua, mas somente como parte do mundo objetivo. A sua identificação com a testemunha se quebra. A meditação é uma atividade sátvica (equilibrio) e que se volta para a completa eliminação de tamas ( inércia) e rajas ( mobilidade ou atividade). Sattva puro (harmonia) é a perfeita libertação da indolência e da agitação. Satva, Tamas e Rajas, são as nossas qualidades primordiais. Como fortalecer e purificar Sattva? Sattva é pura e forte sempre. É como o Sol que pode parecer obscurecido pelas nuvens ou pelo pó, mas somente do ponto de vista do observador. Trabalhe com as causas do obscurecimento, não com o Sol. Para quê serve Sattva? Para quê serve a verdade, a bondade, a harmonia, a beleza? Essas qualidades são metas em si mesmo. Elas se manifestam espontaneamente, sem nenhum esforço quando deixamos as coisas seguirem seu curso, quando não interferimos, quando não evitamos, ou desejamos ou conceituamos, mas simplesmente as experienciamos em total consciência. Essa consciência, por si só é Sattva. Sattva não utiliza coisas e nem é usada pelas pessoa, ela as preenche. Como eu não posso incrementar sattva, devo trabalhar com tamas e rajas somente? Como faço para lidar com elas? Observando suas influências em você e sobre você. Esteja consciente delas em operação. Observe-as se expressando em seus pensamentos, palavras e atos. Gradualmente a força delas sobre você diminuirá e a clara luz de sattva começará a emergir. Isso não é nem difícil e nem um longo processo. A seriedade e sinceridade são as únicas condições para o sucesso.
Sri Nisargadatta

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Demonstração de Ashtanga Yoga

Gayatri Mantra



GAYATRI MANTRA

OM BHUR BHUVA SWAHA
TAT SAVITUR VARENYAM
BARGHO DEVASYA DHIMAHI
DHIYO YO NAH PRACHODAYAT

OM - o som primordial
BHUR - o mundo físico
BHUVA - o mundo mental
SWAHA - o mundo celestial, espiritual
TAT - Aquele, Deus, Alma transcendental
SAVITUR - O Sol, Criador, Preservador
VARENYAM - O mais Adorado, Encantador
BHARGO - Esplêndido, Brilhante
DEVASYA - Senhor Supremo, Resplandescente
DHIMAHI - em Quem meditamos
DHIYO - o intelecto, compreensão
YO - que esta luz
NAH - nossa
PRACHODAYAT - ilumine, guie, inspire

Vergar



Vergar, sobre o peso do tempo, fazendo os braços cansados tocar o chão, deixando as pernas pesadas, cravadas no solo. Dobro-me, fazendo vénia, ao sabor dos ventos, ao seguir dos tempos. Vejo a minha sombra contornar-me, ao ritmo dos dias que passam, sinto a pele estalar, o corpo curvar, a alma mudar. Sinto a solidão das noite longas, que me envolvem e me gelam. Nem mesmo as estrelas, que pontilham o firmamento, me dão qualquer alento. Deixo-me estar, porque também não tenho para onde ir, esforço-me por não cair. Mas o corpo teima em não aguentar a força desta gravidade que me empurra contra a terra, tento, mas não consigo ganhar esta guerra. Depois, perdi o norte, a alma não sabe onde ficou, e não me encontra. Não quero afastar-me, não quero perder-me dela para sempre, mas o tempo, dissolve os sentidos, e suaviza os contornos dum momento único. Não quero esquecer-me, mas já me custa recordar aquele segundo em que tudo aconteceu. O tempo vai-me vergar.

Nasce uma Estrela


Uma nova estrela nasceu, do fogo perdido no céu. Com ela, agregam-se novas esperanças, com ela novos mundos se preparam para surgir. O espaço vazio foi inundado pela luz do seu nascimento. Dela brotou o calor da sua energia, catalizada do nada.
Harmonizam-se os elementos, a ordem celeste encarrega-se de alinhar os novos mundos que se agregam, aos poucos, a esta luz que a cada dia brilha mais intensa. Desenho, a traços de pincel, cada detalhe deste novo sistema. A cada mundo novo, recrio a imaginação.
Utopia, sonho, ou apenas realidade. Deixo voar os sentidos, e com eles levo o que ficou de mim. De asas estiradas, encaminho-me para uma nova morada, lugar mágico que detalhadamente desenhei.
Levo no bolso, um pedaço de esperança, carrego na mochila os sonhos esquecidos, e nos olhos carrego a réstia de felicidade, que me permitirá viajar, ao sabor do vento estelar.
Esta noite, se as nuvens da vida o permitirem, olha o céu, e notarás que há mais uma estrela que brilha entre a imensidão do escuro... é lá que me encontrarás, após cada dia.

domingo, 14 de outubro de 2007

Esperar

Na longa noite da vida, parei na berma do caminho e deixei-me ficar. O meu tempo seguiu em frente, e eu, simplesmente, parei. Fiquei a observar, as outras vidas que passavam, vi-vos passar a todos, escutei conversas, senti a desilusão dos vossos maiores fracassos. Sonhei com todos os vossos maiores sonhos. Vi-vos partir, tão rápido como chegasteis, e deixei-me ficar, parado, sentindo o vento passar, perdido do meu tempo, sem tempo algum onde me encontrar.

Nos momentos de solidão, enquanto naquela estrada não passava vida nenhuma, pensei em tudo o que vivi até ali, sonhei com o que teria vivido se seguisse o meu tempo, meditei sobre as decisões que tomei.

Aprendi, com cada vida que passou, colhi para mim pedaços das vossas histórias, e com o passar do tempo, os meus pés criaram raizes, os meus braços folhagem, o meu corpo, entumecido, endureceu.

Hoje, sou apenas uma árvore, na berma da estrada da vossa vida.

sábado, 13 de outubro de 2007

A Ação Divina em Nós


A vida e todas as suas atividades são parte da ação divina sobre a natureza, manifestando-se e operando na forma humana. Na batida do coração e no ritmo da respiração podemos reconhecer o fluxo das estações e o pulsar da vida universal. O corpo é um templo que abriga a Centelha Divina. Negligenciar ou negar as necessidades do corpo e pensar nele como algo não divino é negligenciar e negar a vida universal da qual ele faz parte. Corpo mente e espírito, não podem ser divididos, pois estão inter relacionados e são aspectos de uma única consciência divina que a tudo invade. Yoga é a prática que não separa em partes este conjunto único universal e por isto, só pode ser praticada, ensinada e transmitida por aqueles que compreendem e vivem de acordo com este princípio."

(BKS Iyengar, livro: A Luz do Yoga)

O que é o Poder do Agora?


Nada mais do que o poder da sua presença, da sua consciência libertada das formas de pensamento.

Portanto, lide com o passado no nível do presente. Quanto mais atenção você der ao passado, mais energia estará dando a ele e mais probabilidades terá de construir um eu interior baseado nele. Não confunda as coisas. A atenção é essencial, mas não em relação ao passado como passado. Dê atenção ao presente. Dê atenção ao seu comportamento, às suas reações, seu humor, seus pensamentos, suas emoções, medos e desejos, da forma como eles acontecem no presente. Ali está o seu passado. Se você consegue estar presente o bastante para observar todas essas coisas, não de modo crítico ou analítico, mas sem julgamentos, significa que você está lidando com o passado e dissolvendo-o através do poder da sua presença. Não é procurando no passado que você vai se encontrar. Você vai se encontrar estando no presente.


O passado não pode ser útil para nos ajudar a compreender por que fazemos certas coisas, reagimos de determinadas maneiras, ou por que, inconscientemente, criamos nossos dramas particulares?

Quando ficamos mais conscientes do presente, podemos ter um insight sobre o porquê de determinados condicionamentos. Podemos perceber, por exemplo, se seguimos algum padrão nos nossos relacionamentos e podemos ver mais claramente coisas que aconteceram no passado. Fazer isso é bom e pode ser útil, mas não é essencial. O que é essencial é a nossa presença consciente.

Ela dissolve o passado. Ela é o agente transformador. Portanto, não procure entender o passado, mas esteja presente tanto quanto conseguir. O passado não consegue sobreviver diante da sua presença, só na sua ausência.

UM GUIA PARA A ILUMINAÇÃO ESPIRITUAL

Eckhart Tolle

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Nossos Limites

Conhecer e respeitar nossos próprios limites significa sabedoria adquirida e, paradoxalmente, é a plataforma de lançamento para vencer estes próprios limites. O conhecimento do limite, já contém em si mesmo, o princípio da sua superação. A ação de respeitar os limites é o cerne da filosofia oriental, muito difícil de compreender para a mente ocidental que, desconhecendo o limite, lança-se á "meta", ao "alvo" sem saber onde está pisando. Ilustrando este pensamento, a metáfora da raposa que caminha no gelo fino é perfeita. Os orientais dizem que “devemos ser cautelosos como uma raposa que caminha no gelo fino, sondando cada palmo do gelo a ser atravessado. Assim ela não rompe a fina camada e não molha nem mesmo a cauda". ( I CHING- o livro das mutações)

Em yoga, o princípio é o mesmo. Uma postura (ásana em nomenclatura sânscrita) nunca deve ser uma meta a atingir. O ásana é um caminho a percorrer em suaves estágios, medindo cada passo, sentindo cada movimento que deverá estar coordenado com a respiração. A busca da meta, de algo a ser atingido, por si só gera tensão e, portanto, a verdadeira yoga é praticada sem o desejo de atingir a meta e sim, com a disciplina e a humildade de percorrer etapas. Nestas etapas, aplicamos o princípio oriental do avanço e do recuo, do faz e do não faz. Nestes avanços e recuos, checamos o terreno, estabelecemos nossos limites e avançamos em terreno seguro.

Para que possamos estar nestas condições, entra o outro fator preponderante nesta prática: o silêncio da mente. Neste estado de silêncio, não se escuta mais a voz do ego exigindo o sucesso, clamando pela vitória. Silenciadas as vozes do desejo, passamos a ouvir nosso guia interior que nos conduz nos momentos de avanço e nos aconselha nos momentos de recuo. Desta forma, evitamos sobrecarregar articulações e músculos ao ponto de levá-los a um colapso provocando no momento uma queda e mais tarde, a dor de uma lesão com seus contrapontos emocionais de fracasso, frustração e infelicidade.

Este ensinamento durante a prática é transportado para a nossa vida diária e aprendemos a "caminhar" na direção dos nossos objetivos ao contrário de "lutar/brigar" por eles. Percebem a diferença? Caminhar na direção de um objetivo não significa que precisemos "lutar”, pois a luta contém em si mesma um componente de violência, fruto do desejo. A luta impõe vencedores ou perdedores, motivos para júbilo ou frustração, geradores da infelicidade, pois tanto um quanto o outro, são sentimentos fugazes. E aqui diferenciamos apenas para conteúdo didático filosófico, as palavras vontade e desejo. Digamos que, a “vontade" é interna e vem do coração, o "desejo" é externo e vem do ego. Neste caso, a Vontade não nos pertence e desta forma se torna sagrada ( termo que significa unida ou una) e se manifesta através da ação que procede da não-ação.

A "não-ação" não significa cruzar os braços e esperar que as coisas caiam do céu. Pelo contrário, a não-ação exige sabedoria, inteligência, disciplina para compreender que tudo nesta vida deverá vir da profunda, misteriosa e sagrada ordem interior. Precisamos apenas nos disciplinar e aprender a ouvir através do silêncio. Existem vários caminhos para isto, um deles é a prática do Yoga.

O que se faz externamente se vai como um sopro de vento, mas o que se faz através das ordens ditadas de dentro, é eterno.