Vergar, sobre o peso do tempo, fazendo os braços cansados tocar o chão, deixando as pernas pesadas, cravadas no solo. Dobro-me, fazendo vénia, ao sabor dos ventos, ao seguir dos tempos. Vejo a minha sombra contornar-me, ao ritmo dos dias que passam, sinto a pele estalar, o corpo curvar, a alma mudar. Sinto a solidão das noite longas, que me envolvem e me gelam. Nem mesmo as estrelas, que pontilham o firmamento, me dão qualquer alento. Deixo-me estar, porque também não tenho para onde ir, esforço-me por não cair. Mas o corpo teima em não aguentar a força desta gravidade que me empurra contra a terra, tento, mas não consigo ganhar esta guerra. Depois, perdi o norte, a alma não sabe onde ficou, e não me encontra. Não quero afastar-me, não quero perder-me dela para sempre, mas o tempo, dissolve os sentidos, e suaviza os contornos dum momento único. Não quero esquecer-me, mas já me custa recordar aquele segundo em que tudo aconteceu. O tempo vai-me vergar.
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