sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Nossos Limites

Conhecer e respeitar nossos próprios limites significa sabedoria adquirida e, paradoxalmente, é a plataforma de lançamento para vencer estes próprios limites. O conhecimento do limite, já contém em si mesmo, o princípio da sua superação. A ação de respeitar os limites é o cerne da filosofia oriental, muito difícil de compreender para a mente ocidental que, desconhecendo o limite, lança-se á "meta", ao "alvo" sem saber onde está pisando. Ilustrando este pensamento, a metáfora da raposa que caminha no gelo fino é perfeita. Os orientais dizem que “devemos ser cautelosos como uma raposa que caminha no gelo fino, sondando cada palmo do gelo a ser atravessado. Assim ela não rompe a fina camada e não molha nem mesmo a cauda". ( I CHING- o livro das mutações)

Em yoga, o princípio é o mesmo. Uma postura (ásana em nomenclatura sânscrita) nunca deve ser uma meta a atingir. O ásana é um caminho a percorrer em suaves estágios, medindo cada passo, sentindo cada movimento que deverá estar coordenado com a respiração. A busca da meta, de algo a ser atingido, por si só gera tensão e, portanto, a verdadeira yoga é praticada sem o desejo de atingir a meta e sim, com a disciplina e a humildade de percorrer etapas. Nestas etapas, aplicamos o princípio oriental do avanço e do recuo, do faz e do não faz. Nestes avanços e recuos, checamos o terreno, estabelecemos nossos limites e avançamos em terreno seguro.

Para que possamos estar nestas condições, entra o outro fator preponderante nesta prática: o silêncio da mente. Neste estado de silêncio, não se escuta mais a voz do ego exigindo o sucesso, clamando pela vitória. Silenciadas as vozes do desejo, passamos a ouvir nosso guia interior que nos conduz nos momentos de avanço e nos aconselha nos momentos de recuo. Desta forma, evitamos sobrecarregar articulações e músculos ao ponto de levá-los a um colapso provocando no momento uma queda e mais tarde, a dor de uma lesão com seus contrapontos emocionais de fracasso, frustração e infelicidade.

Este ensinamento durante a prática é transportado para a nossa vida diária e aprendemos a "caminhar" na direção dos nossos objetivos ao contrário de "lutar/brigar" por eles. Percebem a diferença? Caminhar na direção de um objetivo não significa que precisemos "lutar”, pois a luta contém em si mesma um componente de violência, fruto do desejo. A luta impõe vencedores ou perdedores, motivos para júbilo ou frustração, geradores da infelicidade, pois tanto um quanto o outro, são sentimentos fugazes. E aqui diferenciamos apenas para conteúdo didático filosófico, as palavras vontade e desejo. Digamos que, a “vontade" é interna e vem do coração, o "desejo" é externo e vem do ego. Neste caso, a Vontade não nos pertence e desta forma se torna sagrada ( termo que significa unida ou una) e se manifesta através da ação que procede da não-ação.

A "não-ação" não significa cruzar os braços e esperar que as coisas caiam do céu. Pelo contrário, a não-ação exige sabedoria, inteligência, disciplina para compreender que tudo nesta vida deverá vir da profunda, misteriosa e sagrada ordem interior. Precisamos apenas nos disciplinar e aprender a ouvir através do silêncio. Existem vários caminhos para isto, um deles é a prática do Yoga.

O que se faz externamente se vai como um sopro de vento, mas o que se faz através das ordens ditadas de dentro, é eterno.

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