domingo, 27 de abril de 2008

Te crio...


Deslizo sobre o branco do papel, os dedos mascarados de sombras, adivinho neles uma pele que nasce ali, em curvas perfeitas, em traços suaves, criando formas que sei não existirem, mas que acredito poder sentir. É assim, neste mundo de fabulosas ilusões que te recrio, dia após dia, noite após noite, como se o tempo não passasse de um circulo fechado onde tudo começa onde tudo o resto acabou.


Esvaio as palavras em frases cheias de nadas, completadas pelo silêncio suave que se impõe quando percorremos sozinhos e descalços o deserto da nossa própria solidão, envoltos num mar de gente que nos é completamente indiferente. Sossega-se a dor com um cálice de água cristalina, gelada e fria que invade as entranhas como fogo que derrete o gelo.

É na luz do dia que as curvas do teu corpo ganham forma, como se no branco da tela se revelasse o negro do carvão em tons suaves de pastel. Hoje és apenas uma miragem, não existes, apenas te invento dentro da minha alma. Ontem foste quase realidade que toquei com as pontas dos dedos sem ser capaz de te possuir. O corpo, reflexo visível da cárcere da alma é em ti jardim de um paraíso perdido atrás nos tempos.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Unidos...


Desfaço o corpo em mil centelhas, percorro os céus na noite escura, como resquícios de um cometa perdido nos tempos imensos do Universo. Te encontro, Venus, desnuda, só, vazia de esperanças, envolta em pesadelos tenebrosos. Desço em espiral, na perseguição da tua alma. Te abraço o corpo num turbilhão de luz, apagando as sombras e te oferecendo os sonhos.

O meu corpo se cola ao teu, num encaixe perfeito, matéria sobre matéria, sentido sobre sentido. Encontramos a harmonia, sintonia que nos une num pretérito mais que perfeito, olhando para um futuro luminoso, onde os sonhos são a mais pura realização do presente. O tempo não passa porque o seguramos entre os dedos que se enlaçam na ânsia de se não perderem os corpos.
A chama que nos aquece, é fogo ancestral que em nós flutua, aquecendo em nosso peito o ar que respiramos, o prazer que sentimos quando estamos unidos.

Duas almas em um só corpo, os desejos que se mesclam e as tuas mãos, que são as minhas, acariciando o meu corpo que é o teu, em instantes de luxúria, em momentos de loucura.
Quanto o dia amanhece, resta ainda em teu olhar um brilho que resplandece. Uma centelha que brilha, uma réstia do meu corpo que em ti ficou.

domingo, 20 de abril de 2008

Num abraço eterno..


Entre a noite e o dia, entre a luz e a sombra passeias teu corpo no silêncio das minhas palavras. Te olho como se te tocasse com a ponta das minhas pestanas, inalo o perfume que se espalha no quarto. Percorro a silhueta do teu corpo na penumbra desta magia em tons suaves de prazer.

Danças num ritmo sensual, como se caminhasse ao meu encontro, sem nunca me tocar, mas envolvendo-me em teu corpo.
O Sol da tarde penetra pela janela, na nuvem de incenso queimado deste lugar paradisíaco. Você, como uma Deusa Grega, vela pelo meu corpo perdido nos lençóis de tua cama. Depois do prazer, apenas os murmúrios de uma música distante invadem o sonho quem me ofereceste.

Vejo teu rosto, sinto teus lábios sobre os meus, pareces a realidade aqui mesmo, a um milímetro de mim.
Fico contigo, perdido no tempo, perdido num lugar qualquer do firmamento, agora que a noite toma conta da escuridão e num abraço eterno nossos corpos se tomam nos braços um do outro. Na eternidade do momento somos amantes etéreos para sempre unidos no abraço que nos demos.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sou o caminho...


Teu corpo de água, quebra a rocha dura da vida e nasce, para um mundo de sonhos e encantamentos. Sou leito que te acolhe, que sente a tua suavidade resvalar sobre a minha pele. Sou caminho que te leva por entre penhascos agrestes e te conduz ao mar tranquilo que te recebe.

Neste caminho ondulante te faço amor, sob forma de palavras como rio que desce velozmente pela encosta do teu ser. Moldo a tua cintura com as minhas mãos, te sinto os seios desnudos em meu peito roçar. Sou agora o teu mar, que te acolhe mulher de formas esculturais, num abraço de amor e paixão, num instante de pura e simples ilusão.

Aqueço teu corpo pequeno na imensidão do meu próprio oceano. Salpico com a espuma das ondas o céu escuro desta noite para que te acompanhe com uma constelação imensa de estrelas, onde as lágrimas que meus olhos não derramam, sejam os caminhos que segue até me encontrar.

Te sigo, desde que nasce até que adormece, de menina a mulher, de flor a fruto, num ciclo que não mais tem fim, por entre vidas a fio, sempre te descubro, em tua própria nascente.

domingo, 13 de abril de 2008

Conheço...


Conheço cada traço de um corpo envolto entre as sombras da luz. Percebo cada reação inconsciente que ele me revela, quando me olha, quando me sente. Sinto teus seios arrepiarem-se de prazer ao contato dos rostos, num simples cumprimento. Entendo, como ninguém a química da tua essência. Sei de todos teus ângulos, te sinto em todos os tempos e desvelo em ti a magia da luxúria quando está comigo.

Sei encontrar em ti as fontes que jorram os delírios mais inconfessáveis do teu ser, os sonhos mais loucos, as fantasias mais secretas. És-me translúcida como a água que brota da fonte, como o vento que trepa a montanha, como a luz que corta as gotas de água da chuva num arco-íris de cores. Não preciso nem estar perto, para saber onde estás, não necessito ouvir-te a voz para adivinhar-te as palavras.

Sei onde adormece o teu espírito e onde mora a tua alma, o caminho para o teu jardim secreto. Conheço as letras, palavras que formas com os sentidos que agarrar em cada encontro com as minhas frases, com aquilo que te escrevo. Nas mesmas letras fazes novas frases, colhes os sentires, usa-os como alimento e devolve-los em orgasmos cósmicos que aportam em meu corpo distante.

Por isso sei, que agora me esta a ler, que sente cada instante, que deixa o tempo fluir ao teu redor ficando parada aqui, em mim.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Quero...


Não importa os corpos que tive, as faces que vesti, a cor da minha pele. Não importa os séculos que vivi, as noites em que não dormi, a saudade que senti. Nada importa quando teu corpo aporta o meu.

Nada mais importa quando a luz da tua alma faz da minha noite dia, quando o brilho azul dos teus olhos pinta o meu céu negro. Amar com a pureza cristalina da água, sentir com a suavidade da seda, é mais que tudo aquilo que possa ter sido, e, se até este instante não sabia interpretar o sentir, daqui por diante não saberei mais o que é não amar assim.

Recebo o teu abraço, sinto cada pedaço da tua pele colar-se a mim, as essências de ti me penetram os sentidos e o meu corpo estremece ao te receber em mim. Quero saber, o perfume da tua boca, o sabor da tua pele, o toque do teu olhar em mim. Quero sentir a emoção do teu abraço, apertado, das palavras que em silêncio nos dizemos.

Quero provar o teu corpo, vibrar em ti, e olhar o gosto do prazer transbordar de teu olhar. Afinal a alma conduz-nos e a minha alma leva-me a ti. Afinal o amor comanda-nos e o meu coração palpita em teu peito.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Sozinho...


O escuro é agora o lugar onde me encontro, as sombras são a companhia que me abraça e o silêncio o ombro amigo que me ampara. Já não vôo no espaço aberto da noite, não conduzo na ponta dos dedos os sonhos, não ilumino os céus porque meu olhar perdeu o brilho. Hoje a noite é apenas um espaço entre dois dias.

A ausência de palavras emudece minha voz que não se propaga, a racionalidade invade o corpo, aprisionando a alma em seu interior, hoje perdi a liberdade de voar, deixei as convicções caírem e os sonhos dormiram e não mais despertaram. Pergunto-me onde estão os sentidos, a essência do amor, a paixão dos instantes em que nos oferecemos. Me pergunto como podemos nos perder e não mais nos encontrarmos.

Não sei onde estou, perdi a noção de lugar, de tempo, deixei o vazio vestir o meu corpo, deixei a solidão tomar de assalto a minha alma mergulhando o espírito nas águas frias do oceano profundo. Hoje sinto-me só, um vazio enorme toma conta de mim.

sábado, 5 de abril de 2008

Deixando-me....


Desperta da escuridão, envolta no perfume das flores que te cobrem o corpo. Desabrochas para a vida, depois da tempestade de uma noite de pesadelos. Se faz dia, antes mesmo que a escuridão desapareça, porque o sonho afastou os temores, os medos. Dissipam-se as nuvens e o brilho da Lua ilumina o teu olhar. Teu corpo feito de prata reflete os desejos que a alma anuncia escondida em teu peito.

Sou como uma estrela que te visita, abraço terno que te acolhe no frio e na distância que te separa de mim. Sonho, de uma noite quente de Verão, ou, coberta que te afaga a pele num dia frio de Inverno. Sou letras, imaginação com que preenches o teu sono. Sou quase tudo, e praticamente nada. Acordas, no meio desta Noite, arrepiada pelo ar fresco da madrugada, ou por pressentir a minha partida antecipada.

O vento do norte vem me buscar, e os raios do Sol adormecem o meu olhar, já não brilho no teu céu, já não te abraço porque a realidade te colheu, deixando-me ficar sozinho, aqui!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Como uma melodia...


Seguro na palma da mão o retrato que a minha memória guarda de ti. Desenho-te sobre o ar vazio, ilumino o teu rosto desconhecido. Me encontras, mesmo quando não te procuro, quando fico em silêncio, escondido dentro de mim. Sabe que estou aqui e isso te basta, te é suficiente, equilibra o teu cotidiano com um leve traço de loucura. No meio deste nada, te encho a alma com sentidos, me sentes como se fosse real, me amas como se fosse teu, mesmo sem me tocares.

Pego na tua silhueta e a levo, voas comigo entre a folhagem alta desta floresta inundada de sonhos, pensas-me real, mas sabes que sou apenas imaginação, algo que se desvanece na plena luz do dia, quando as nuvens toldam o horizonte e fazem do teu dia um pesadelo. Sou o sopro dos teus próprios lábios, o beijo da tua própria boca sobre o teu próprio corpo, sou teu, e sou tão simplesmente nada. Não me escutas porque nunca ouviste a minha voz, imagina-la como melodia celestial, um toque, uma música.

Esperas que chegue montando uma constelação inteira de estrelas, qual príncipe encantado que te rouba às garras do dragão, qual mito encastrado em tua própria alma. Mas afinal, sou apenas um sonho, que noites a fio passas na tela do teu desencanto, uma só melancolia, ou tão somente um drama no próprio palco da tua vida.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Encontrar-me...


Hoje, entrego-me no fluxo das palavras, esquecendo as imagens, os corpos, alimentando a alma apenas da brisa dos ventos, da luz da Lua, e dos sons que nela se dispersam com a suavidade desta Noite. Hoje, não tenho corpo, apenas a alma prevalece. Esvoaça por entre as nuvens, acima delas, nos limites da atmosfera deste mundo real, afogado em dramas constantes, sustentado por alegrias suaves que se dissolvem em lágrimas de chuva.

Hoje, não sou eu, sou etéreo, solvente, música que ecoa pelos vazios, por entre árvores e caminhos, tocando os corpos, procurando as almas que se perderam por entre os mantos de nevoeiro do cotidiano. Hoje sou barqueiro que navega, por entre rios de prantos, estendendo a mão da salvação que não encontro para mim aqueles que necessitam de amparo.

Hoje, entre os Céus e os Infernos, visto-me de anjo perdido, na eterna ânsia de me encontrar, chegando a casa, chegando a mim. É no ritmo das palavras que encontro o espaço que me falta, a luz que me ilumina e o conforto que não encontro deste o início dos tempos. Deixo-te, a réstia de luz que te conduzirá a mim, deixo-te a palavra estendida, como a mão que estiro na tua direção, à espera que teu corpo consiga tocar-me a alma, à espera que tu consigas encontrar-me.