sábado, 8 de dezembro de 2007

Espectador


Suspendes o corpo, num fio de seda que atei às estrelas, nesta noite que nos abraça. Abres mão da alma, como último recurso para a libertação. Vejo-te voar, qual pomba branca sobre o fundo negro das tempestades, és pureza, uma divindade que carrega nas asas a salvação do amor eterno, afastando-o das tormentas do cotidiano.
Eu, sou mero espectador, sentado na poltrona da platéia, assisto ao melodrama do dia-a-dia, que se desenrola com fim anunciado para um instante qualquer. Os personagens debatem-se com as amarguras, agruras dos dias que se sucedem em fios de navalhas que cortam a direito os corpos que não possuem. A felicidade é uma luz, que se acende em breves instantes entre cenas e tu, esvoaças acima do palco, imaculada na brancura de tuas penas, leve como a brisa do vento norte.
Batem-se as mãos em palmas anunciadas no desenrolar do contexto desta peça de vida, pedaço de nós que desfilou ante olhares atônitos, umidos, lacrimejados, que se abraçaram a sorrisos instantâneos que consumimos como o fogo consome o papel, onde escrevemos o guião. E tu, agora bailarina, despida, pairas sobre a última cena, pendurada, sobre a corda que te salva a vida, mas te amarra a alma.
O espetáculo termina, e eu, adormeço o corpo na cadeira da vida.

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