Pauso o olhar, nas tranças do tempo, deixo-me ficar, sentado sobre ele, vendo a vida passar, o teu corpo mudar, ao ritmo do meu pensamento. Deixo-me estar, parado entre os segundos, vislumbrando na penumbra o teu corpo desnudo, dançar em minha frente. Hoje estou vazio, não sei se gastei todas as palavras de uma só vez, ou, se, simplesmente, deixaste de as soprar no vento. As mãos geladas não escrevem e o olhos ficam parados para lá do infinito, sem se aperceberem do que ocorre em seu redor. Tu, vestida de nada, segues aí, agitando o corpo ao ritmo dum relógio qualquer. As forças esvaem-se e o corpo entra numa letargia oca. Não se escuta nada, nem a música que outrora enchia a casa de ruidos. Apenas os corpos permanecem sem saber muito bem porque ficaram aqui quando as almas foram para outra dimensão. Sinto apenas a brisa que provoca o teu corpo de bailarina, vestido da seda da tua pele, que se contorce nesse palco vazio que é a vida. Os meus olhos, vidrados no horizonte que se apresenta como limite infinito deste mundo onde o ar é a única coisa que subsiste, apenas vêem para lá do escuro, um ponto azul claro, na extensa Noite em que se transforma esta dança sem música a que te entregas em cada dia da tua vida.
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