sábado, 19 de janeiro de 2008

O perfume do Incenso

Agita-se no vento suave do entardecer o perfume do incenso que arde sobre a mesa vazia. No ar circulam as fragrâncias de um tempo por existir. Num instante o teu corpo ultrapassa a névoa que o envolve e anuncia um novo perfume, e sinto o cheiro doce da tua pele inundar-me de luxúria e prazer.

Paro, um momento, enquanto te deixo contemplar a minha sombra que esconde a luz intensa da tua alma. Seguro, o impulso que me impele a tocar-te, prolongo o prazer da abstinência, deliciando o olhar com os contornos dum corpo desnudo, duma chama ardente que queima o ar em seu redor.

Na brisa que se solta dos lábios sob forma de palavras, proclamo a minha paixão, feita de frases, textos e imagens que criamos na distância que separa os nossos corpos. Esta história, como tantas outras, escrita com os sonhos que nos atrevemos a sonhar, faz parte dum livro que começamos a escrever lá longe no passado e que continuamos a escrever, em cada palavra que inventamos, em cada verbo que conjugamos.

A sensibilidade que se espalha por toda a envolvência, provoca arrepios de prazer, e, nem mesmo a falta do contato físico apaga, a emoção deste êxtase que nos percorre a líbido, nos estremece por dentro e nos faz vibrar, revirando o olhar e atingindo o climax, nesta troca solvente de letras que encaixam como os corpos, um no outro.

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