sexta-feira, 30 de maio de 2008

Preludio...

Surges das sombras, como reflexo do teu próprio corpo desnudo. Vens, em gestos lentos como a brisa de um sopro de vento. O perfume da tua pele precede, como prelúdio de um instante que está para chegar. O fogo da tua alma incendeia o ar que se aquece em ti. A música geme a tua voz que se abraça com as notas fazendo a letra gritar mais alto que o próprio prazer.

Eu, espectador deste momento, fico sentado, esperando pelo meu tempo. Deixo o meu olhar deslizar por todo o teu perfil, com um suave traço de contorno, um risco imaginário com a ponta dos dedos. Apuro os sentidos, retirando ao brilho que ofusca o olhar o calor que me aquece a pele. Te inalo, em cada inspiração, como se te houvesses dissolvido na atmosfera.

Quando os corpos se encontram, o Universo recomeça com uma explosão de energias que iluminam o infinito vazio de cor. O tempo começa do zero, como se antes não existisse um único segundo. As bocas calam-se num beijo longo e no olhar nascem as primeiras galáxias, redemoinhos de prazer que rodopiam no espaço.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Imagem Criada.....


Crio, na ponta do lápis, a sensualidade que te adivinho, cubro, com as pontas dos dedos, os espaços vazios de um corpo por desenhar, arrasto as sombras, delineio contornos, fazendo o tempo esperar por mim, suspendendo o próximo segundo com a própria respiração. Cravo as mãos no peito, remexo a minha alma à procura da tua, sustenho-a com a delicadeza de quem segura uma porcelana fina, bela e frágil. Com a suavidade duma pena, deixo que deslize sobre a imagem criada, dando-lhe vida.

Como por magia, te vejo, por entre as brumas da madrugada, qual pássaro solitário, num voo perdido no infinito dos tempos. Aqui, diante de mim te fazes mulher, materializaram-se os sentimentos, a imaginação te deu corpo e a alma carregou-te de vida, e pode tocar-te, antes mesmo de te ver, pode sentir-te, antes mesmo de chegares.

Neste universo paralelo, onde os sentidos dominam a matéria, onde o vazio está completamente cheio, de nós, as palavras são ecos que apenas confirmam a imensidão deste lugar. São os elos da corrente que nos liga, são segredos que depositamos nos braços da eternidade. Por entre todo este espaço imenso, os sinais, as imagens, as própria palavras são feitos de pedaços nossos, que marcam e identificam, sem erros, os verdadeiros sentimentos que nos unem.

sábado, 24 de maio de 2008

Peço...


Peço ao céu as nuvens, que com um sopro, esculpo o teu corpo. Peço ao Sol os raios, para transformar nos fios do teu cabelo. Peço à Lua o brilho, que coloco no teu olhar. À Terra peço a cor com que cubro a tua pele. Da noite retiro o véu, pontilhado de estrelas, com que sensualmente te visto.

Do mar retiro a força das marés, com que te animo, da minha alma, retiro um pedaço, e te dou vida. É assim todas as vezes que te vejo, um quadro, uma escultura, uma criação divinalmente bela. Suspensa sobre a bruma da madrugada, chegas para me salpicar a alma com o orvalho da manhã, para me acordar com um beijo suave sobre os lábios dormentes de um sono à muito prolongado.

Me acorda, com a carícia da brisa suave duma qualquer manhã de final de Verão, e eu, que te esperava desde os confins da eternidade, abro os olhos para contemplar a beleza da tua aura que brilha sobre um corpo inventado num sonho de menino. Acordo, com o sorriso a despontar-me na face, ao encontrar com os meus olhos, os teus, ao encontrar com os meus dedos as tuas mãos suaves, ao encontrar com os meus lábios, o mel da tua boca que me adoça o despertar.

É assim que sempre chegas até mim, mesmo na distância, mesmo na saudade, é assim que te recordo, e é assim que te sinto, sempre presente em mim, em cada despertar, mas particulamente em cada adormecer...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Palavras...


Tatuo teu corpo a letras de fogo. Prazer imolado em frases. Sentidos despertos que sublimam a libido num instante em que os corpos distantes se unem no infinito. Devoramos metáforas em doses maciças, incenso disperso pelo quarto que nos acolhe. Gemidos que se calam nas palavras que os desnudam, como senso último de todo o desejo.

Tango a dois corpos dançado, música que embala o destino, cortando o vazio que à volta se condensa, como gotas do suor derramado pelo êxtase dos silêncios consumados. Meus braços sujeitam teu corpo desnudo conta o meu, teus cabelos feitos de ventos soprados, passeiam-se pelo espaço como galáxias, e o brilho dos olhos que vejo, são sois que os meus guiam neste bailado perfeito.

Colho os pedaços da alma, como átomos dispersos do teu ser, que moldo em flor de luz e prazer. Ensaio as letras que cantam as músicas nos ritmos que os corpos deixam quando as forças jamais os sujeitam. E ali, perdidos no meio do palco, atores deste belo ato, deixamos abandonados à ausência de público, os corpos, trajes despidos das almas, que partiram para lá de eternidade.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Presente dentro de ti...


Espero a cada instante a chegada da noite, porque nela vem o teu perfume, o sonho e a candura das palavras feitas de poemas escritos, sussurrados na brisa do vento. Espero, que o tempo voe, como um pássaro nas asas da noite, levando-me para perto de ti. A realidade não apaga, não dissolve, aquilo que alma sabe existir. O brilho pode até ser ténue, pode até perder-se por entre outros muitos brilhos, mas está sempre presente dentro de ti, dentro de mim.

Entreguei-me nos braços deste mar, salgado de lágrimas perdidas, senti o meu corpo abraçado pelo teu, senti a minha alma envolta na tua, senti-te em cada elemento, no sal desta água, no brilho deste Sol, na brisa deste vento, e, na luz da tua Lua. Uma presença constante que me carregou no colo sobre a areia da praia, ainda que por vezes pensasse que as pegadas que ficavam para trás eram as da minha solidão, percebi, que eram tuas, porque me carregavas na alma.

Adormeci, olhando o céu, na noite eterna que nos une, nesta ponte que criámos, e que apenas nós sabemos cruzar, um espaço mágico, um instante roubado à eternidade que nos permite, estar longe, mas tão perto, que sinto o calor da tua face roçar o meu rosto. O tempo teimou em passar devagar, como que a querer testar resistências, sentimentos e angústias, talvêz numa tentativa de nos tornar mais confiantes, de nos dar certezas. As amarras que prendem esta alma à tua são feitas do mais forte dos fios, a seda, que constroi estruturas aparentemente frágeis, magnificamente belas, mas profundamente resistentes.

Os meu braços, a minha alma, estão de portas abertas, esperando sentir-te, aconchegar-te no peito, sentir o beijo doce dos teus lábios de mel, e a carícia suave da tua mão.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Estou...

..à tua espera, sentado neste banco de jardim, olhando as águas plácidas do lago, esperando pelo tempo, esperando por ti. Não vou a lado nenhum, apenas fico, à tua espera, sinto a tua presença em cada gota de maresia, em cada átomo de oxigênio, em cada sopro de vento, em cada raio de sol. E quando a noite vem, te vejo, refletida no brilho de cada estrela, na face oculta da Lua, onde te escondes só para mim.

Fico, aqui, à tua espera, porque o tempo não importa, porque a eternidade absorve os segundos e as tuas palavras alimentam a minha alma, mesmo quando não as consegues fazer chegar até mim. Sei que as escreves, que as pronúcias ao vento, que as sonhas e inventas, na tua poesia, nesse verso em branco, que escreves na areia da praia, no ar que respiras ou simplesmente na alma que é a minha.

Te descubro-te, ao olhar a flor, ao sentir o teu perfume invadir o ar que me consome, ao encontrar a tua alma, dispersa entre campos e cidades, entre rios e mares, entre o dia e a Noite. Te reconheço, em cada rosto que passa, em cada corpo que flui, nas vozes que se cruzam, nas formas que se projectam na luz do dia, mas, particularmente, descubro-te, naquilo que não se vê, que não reflete o dia, e apenas na sombra da noite, se transforma, te vejo refletida em mim, nesta alma que carrego comigo, a tua, que é minha, que é a nossa.

Te digo que fico, a tua espera, porque apesar da distância, estas aqui, sentada sobre o meu colo, neste final de dia, esperando a noite para me abrace, para mesclar-me no meu corpo e possuir a minha alma, com a intensidade de mil sois, com a força das tempestades. Eu? Fico!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Silêncios...


Na magia dos dedos, nascem silêncios, pausas, lamentos que trespassam o céu azul e a noite escura, adormecendo no horizonte sobre as águas do mar. Cresce na brisa, voa na ventania, corre veloz em plena tempestade, como sinal, completa catástrofe. Ouve-se no vazio um som, um grito abafado, uma voz rouca que chora, um pranto amplamente calado.

Perde-se no oceano profundo, afogando a esperança consigo, levando na alma a dor que rasga o peito e mil tormentos. Sente na pele arrepios, na boca amargo fel degusta, mas lá fundo no meio do mar, encontrará o seu tão desejado lugar. Adormecer de olhos aberto, como se sonhasse dormindo, se deixa ficar em sua concha de cristal.

O horizonte adormecido sobre as águas desse mar tranqüilo, espera tarde após tarde, que regresse, que venha beijar o seu céu, que venha iluminar sua noite, com mais uma estrela que brilhe no firmamento. No silêncio que invade o ar, sente-se a saudade do seu cantar.

domingo, 11 de maio de 2008

Um instante...


Prelúdio de um instante, segundo antes do teu olhar, sonho, mesmo antes de acordar. É você, que, como fonte de água viva, brotas do seio da Terra virgem, imaculada e fresca, mata minha sede, que a boca quente ansiava por ter. É, a luz terna, amante eterna que o corpo quer vestir. Puro o teu sentir, leve o espírito que esvoaça na noite escura.

Corpo do meu texto, livro aberto onde te descrevo. Fôlego que me invade de oxigênio, levito, pairo como ave suspensa sobre o firmamento, brilho de estrela. Silêncio que veste o teu corpo, nú, que aqueço em mim, retrato desenhado da tua pele, ou, simples saudade que a palavra descreve. Distância que te trás perto, lugar estreito, estrondoso que se propaga pelo Universo.

Final, antecipadamente anunciado, abraço, apertado. Neste lusco-fusco, neste quarto, onde todas as noites somos sonhados, jardim, perfumado de essências, lugar sagrado. Esta noite sou um cântico, voz dos poetas, uma música celeste que em teus sentidos remexe. Quebro o silêncio, invado-te com mil palavras, trazendo a luz, criando as sombras que detrás de ti se escondem. Você é o livro que a cada dia escrevo, te encho de palavras e sentidos, toco como se fosse meu corpo teu.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Próprio Vento...

O fogo do silêncio adormece no teu peito como pluma que perde as asas por falta de vento. És deusa adormecida entre as pausas da minha vida, eu vento que te trás as asas dos sonhos. A alma se solta em passos de dança, num ritmo lento e belo, colhes meu corpo como espiga dormente e me leva como se fosse você o próprio vento.

Este bailado se propaga nos céus da noite, como uma galáxia que gira sobre si mesma. Em baixo a Terra guarda-nos os corpos abandonados à própria vida, enquanto aqui, neste lugar mágico, jardim secreto, seguimos os passos um do outro numa harmonia perfeita. Almas de pássaros que flutuam no vazio dos sonhos, entre estrelas distantes e paixões ardentes.

Teu corpo dolente não toma consciência da turbulência de tua alma, teu rosto triste não compreende a alegria do teu espírito, e neste contra-senso contorce-se como se atravessasse um pesadelo. A noite alonga-se até ao raiar do dia, deixando a alma plena e teu corpo exausto. Retiro-me para repousar em minha ceara, e tu despertas para a vida.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Seguindo...


Seguindo o caminho das tuas pegadas, persigo o perfume do teu corpo. Te encontro só, no meio da noite, perdida, despida de esperanças, qual anjo adormecido. Te sussurro no ouvido palavras de amor, sonhos encantados com os quais gostávamos de sonhar. Te toco de forma singela a pele do teu ombro e te desperto num sorriso imenso que trás luz à própria escuridão.

Penduro em teu dorso as asas que havias esquecido junto de mim, em nosso último encontro, em nossa última Noite de amor. Devolvo sentidos à nossa pele e direção aos sonhos que fazem a vida sorrir-nos nos lábios. A noite brilha de estrelas e neste momento mágico se derramam fogos de artifício que comemoram o regresso de algo que nunca esteve ausente, o nosso amor.

É já madrugada quando, depois do amor, ainda fica agarrada a mim, adormecendo para um novo sonho, cheio de esperança, sorrisos e amor, para me dar, para receber de meus lábios os beijos doces que te dou.

Regressei, sem nunca ter partido, veio, sem nunca ter ido embora. Unimo-nos num eterno abraço.