
Sou uma palavra, morta, vazia e oca, que se perde entre frases. Sou um texto sem autor, cuja a composição é desprovida de senso. Sou nada, feito de muitas coisas, sou um pouco de tudo e de todos. Letra afogada num oceano de verbos, solitário na incessante busca do que não encontro.
Cruzamo-nos um dia, num recanto do sonho, num pedaço esquecido do Universo. Uma alma despida de corpo, um corpo vazio de alma, tu a minha casa, eu o teu habitante. Num olhar que não se cruzou, adentrei-me em ti, na força dos sentidos, instalei-me em teu peito e tu, tu abraçaste-me, recebeste-me em ti como a boca sedenta que recebe a água fresca. Eu acolhi o teu corpo, o teu calor, como um mendigo recebe um abafo em pleno inverno.
Hoje você ainda é o corpo desnudo, e eu, o xale que te cobre a pele, nas mãos carregas a flor que de nós nasceu.
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