Deslizo sobre o branco do papel, os dedos mascarados de sombras, adivinho neles uma pele que nasce ali, em curvas perfeitas, em traços suaves, criando formas que sei não existirem, mas que acredito poder sentir. É assim, neste mundo de fabulosas ilusões que te recrio, dia após dia, noite após noite, como se o tempo não passasse de um circulo fechado onde tudo começa onde tudo o resto acabou.
Esvaio as palavras em frases cheias de nadas, completadas pelo silêncio suave que se impõe quando percorremos sozinhos e descalços o deserto da nossa própria solidão, envoltos num mar de gente que nos é completamente indiferente. Sossega-se a dor com um cálice de água cristalina, gelada e fria que invade as entranhas como fogo que derrete o gelo.
É na luz do dia que as curvas do teu corpo ganham forma, como se no branco da tela se revelasse o negro do carvão em tons suaves de pastel. Hoje és apenas uma miragem, não existes, apenas te invento dentro da minha alma. Ontem foste quase realidade que toquei com as pontas dos dedos sem ser capaz de te possuir. O corpo, reflexo visível da cárcere da alma é em ti jardim de um paraíso perdido atrás nos tempos.