Nos últimos dias tenho guardado o silêncio, como forma de prender em mim as palavras que nascem de tantos voos. Me visto com as cores da noite, sopro as estrelas para longe, quero ficar sozinho na escuridão. Eclipso a Lua para que não brilhe no meu céu e deixo resvalar as lágrimas para que chova sobre mim.
Hoje sou eu mesmo, aquele que nada é, o próprio vazio, sem fé. Sou a sombra que escurece o dia, a dor que rasga o peito, o pranto que em guerras se digladia. Suspendo a respiração, desejo que o vento deixe de soprar, que a tempestade não me assole e que a vida se suspenda neste lugar.
Sinto que te perco por entre meus dedos, como que querendo-me chamar, mesmo sabendo que aqui, não posso te seguir como gostaria. Te vejo a distância como se pudesse te tocar, mas meus braços são curtos para te alcançar.
Fico aqui, quieto, envolto neste manto de silêncio, onde sempre fico quanto segue o teu caminho, sei que não tarda te verei de novo passar, noutro corpo, com outro olhar, mas sempre será você que volta para me desafiar.
Um dia espero quebrar as amarras e te siga para outro lugar, ou quem sabe um dia fique aqui para poder me cuidar. Voa que te vejo voar, te liberta no ar, como pólen que outras flores vai fecundar, sei que estará sempre aqui, de regresso ao mesmo caminho, voltará para me visitar, e eu aqui ficou sozinho a espera de te ver passar.
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