O corpo arrasta com ele a nossa vida. Segue, para lado nenhum, sabendo já o seu último destino. Inspira, expira, em cadências de tempo que mantêm acesa a chama que reside dentro de si próprio. Renova-se o ciclo, em cada acordar, renasce o dia em cada palpitar. Bate-lhe o sangue pelas veias ao ritmo do segundo, ao impulso do coração que o anima. Arrasta a alma o corpo, na esperança da libertação, empurra-o, ensina-o, adapta-o às vivências, e serve-se dele para sentir, para ser palpável, para existir.
Nesta relação entre hóspede e hospedeiro, vivem, abraçados a um destino, até que as forças cedam e os laços se quebrem. Bate o relógio, ao ritmo do tempo, que se gasta, que passa.
Esgota-se a vida, a cada segundo. Seguimos em frente, corpo e alma, na esperança que subitamente cesse o contrato que nos une, dando lugar a uma nova reconversão. Cada qual ao seu destino, entregam-se numa parceria que não escolheram, presa a compromisso e regras que a própria vida lhes impõe, deixando-se amarrar mais e mais a cada volta, a cada esquina, a cada lugar.
Chega o fim de dia, instante de libertação, em que cada um se resigna ao seu mundo. O corpo adormece, cansado da jornada, a alma, solta-se, para pairar no etéreo infinito do céu da noite escura. Separam-se os mundos por breves momentos, no sono, nos sonhos.
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